quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Choro em público



Tenho recebido questionamentos dos pais a respeito de uma situação muito comum entre pais e filhos. O filho que faz escândalo em público, seja no supermercado, festas, rua ou banco.

O supermercado é o meu playground. Lá os pais mostram o seu pior no que diz respeito a educação de filhos. Ocorrem esses eventos, procuro me aproximar para observar as reações dos pais e dos filhos. Com essas observações e algum estudo é possível formular algumas conclusões.

Ir ao mercado e observar os pais é ver gritaria de parte a parte, ameaças e agressão, físicas e verbais, suborno e até pais que ignoram o choro do filho.

Estudos realizados nos Estados Unidos apontaram que os filhos avaliam as reações dos pais por meio das feições. Cada ação é acompanhada por uma reavaliação de como aquilo atingiu os pais.

O escândalo do filho em público é uma forma de suborno. O filho observa a reação do pai ou da mãe e avalia o quanto vale a pena continuar a gritaria. O pai está envergonhado? Está assustado? Não sabe o que fazer?

O resultado dessa avaliação determina os próximos passos do infante.

Aqui vão as sugestões para os pais:

1 - faça cara de paisagem, tanto para o filho como para as pessoas a sua volta. Demonstre total confiança. Para todos os efeitos está no controle da situação, um homem de gelo;

2 - retire a criança da presença do público. É um teatro. As pessoas as sua volta são uma das moedas de troca. A criança se sente confortável em chorar e gritar naquele ambiente. Não ficará tão confortável quando estiver cara a cara só com você;

3 - não ameace, suborne, ou mesmo aja com violência, se não faz isso com outras pessoas, não faça isso com seu filho. Não exponha a você ou a seu filho ao ridículo;

4 - quando estiver a sós com ele, espere que se acalme e explique com tranqüilidade qual é o comportamento desejado, não suborne ou ameace;

A verdade é que devemos preparar nossos filhos para os eventos externos antes de sair. Devemos sentar e com serenidade ensinar qual o comportamento é esperado. Assim, tudo que acontecer, não será surpresa para a criança e saberá que os pais são coerentes e sábios.

Mesmo assim, algumas crianças testam a paciência e o autocontrole dos pais.

Ao ser testado como pai nessa situação siga o script acima listado. Vai dar certo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Família Mosaico - Cadê meu Pai? – Síndrome dos dois reinos - parte II


Contexto

Fomos chamados para auxiliar um casal que passava por uma crise conjugal. O casal, de São José dos Pinhais, brigava incessantemente e apresentava como causa o comportamento do filho adolescente. O filho insistentemente desobedecia ao padrasto e a mãe. A cada visita a casa de seu pai biológico voltava pior.

Na casa do pai o filho era doutrinado a não receber ordens ou ensinamentos do padrasto. O pai não acompanha as atividades escolares ou pessoais do filho. Resultado: bebidas, cigarro, internet até altas horas, quarto bagunçado.

A mãe por outro lado, desonrava o pai do menino em cada oportunidade que tinha. As brigas por telefone ou pessoalmente eram seguidas por acusações a respeito do comportamento do adolescente.

No dia das mães, embora a mãe estivesse presente na cerimônia do colégio, foi a madrasta que recebeu as homenagens do enteado. Resultado: um princípio de confusão entre os dois casais. O relacionamento entre mãe e filho nunca mais foi o mesmo.

O colégio não realiza mais dia das mães ou dos pais, pois outros fatos da mesma espécie já haviam ocorrido. O nome do evento passou a ser “Dia da Família”, o que em minha opinião, vilipendia os relacionamentos familiares e evita o conflito e o tratamento das famílias. Em Brasília, a mesma medida é tomada por outros colégios.

Situação

Os pais não agem como uma autoridade. O ensino de boas maneiras, moral e ética nunca existiu. O filho é usado como instrumento para se ferirem mutuamente.

Emocionalmente abandonado, se sente usado e não possui instrumentos morais e emocionais para sair dessa situação.

Ele precisa de um pai. Fica uma pergunta que o jovem nem mesmo sabe formular. Cadê meu pai? Cadê o meu ponto de apoio emocional? Onde está o meu confidente? O meu professor, abençoador, amigo, provedor. Quem vai me punir, me proteger? Quem vai me abraçar e orar comigo?

O sofrimento do filho é ignorado. Os pais vivem suas vidas, namoram, casam, viajam, mudam de casa e o filho tem que se virar com seus sentimentos e frustrações decorrentes das decisões dos pais.

Conseqüências

Grupos sociais formados por jovens, darks, punks, emos, entre outros, tem em sua estrutura o que falta para o adolescente ou jovem dentro da família. Regras, padrões, liderança e a aceitação. Ali ele se encaixa. Ele vai fazer tudo para ficar com esse grupo. Se encaixar. Mesmo que para isso precise fazer tatuagens, fumar, beber, se vestir de preto, rosa, o que for. Mas o que vai trazer mais frustração para os pais é que vai recusar fortemente os grupos sociais aos quais os pais pertencem.

Tivemos relatos de jovens que fizeram tentativas de suicídio que os pais nem souberam. Estudos mostram que a cada tentativa de suicídio, fica mais próxima morte do suicida. É um sofrimento silencioso, doloroso. Os pais pensam apenas em si mesmos. Os filhos sofrem.

Solução

Ademar e Lúcia tiveram uma separação litigiosa e cercada de acusações e brigas. Os filhos pequenos passaram a apresentar quadros de obesidade e hiperatividade. Entre o período de diagnóstico e os novos casamentos fizeram um acordo de manter as mesmas rotinas nas duas casas, entre outros itens que vou elencar abaixo:

1 – rotinas e regras iguais nas duas casas;
2 – tempo de qualidade com os filhos;
3 – os pais quando se encontrarem devem ser cordatos;
4 – os assuntos polêmicos devem ser discutidos em locais diversos dos lares;
5 – os pais devem se preparar, com cursos e livros a respeito de educação de filhos;
6 – em caso de novos casamentos, a comunicação deve ser feita entre os homens e ser periódica;
7 – a punição é aplicada pela autoridade presente;
8 – tempo de ensino, leitura, abraço, apoio, oração, entre outros deve existir nas duas casas.

A situação é delicada. Apesar de existirem dois reinos, os pais precisam proteger os filhos para minimizar os danos gerados pelo divórcio.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Síndrome da Fantasia – Pais do Abandono



A síndrome da fantasia tem diversos aspectos a serem considerados. Vou explorar apenas o que se refere às conseqüências da aceitação da mentira na educação de filhos.

A síndrome da fantasia se caracteriza pela aceitação de que algo imaginário, irreal e mentiroso é verdadeiro. O ser veste aquela roupagem mentirosa, altera sua imagem e identidade, passando a agir conforme a fantasia que assumiu.

Assim, mesmo que o novo ser que surgiu seja nocivo, todas as ações são voltadas para perseguir a completa transformação.

Jéssica, com 7 anos, recebeu com alegria notícia de que seu pai iria lhe ensinar matemática. Infelizmente, nos primeiros momentos, a impaciência do pai, a induziu a cometer erros. Nervosa, nunca em sua vida tinha sido pressionada.

Assim, os primeiros erros ocorreram e nada que o pai falava fazia sentido. O pai, aquele que deveria abençoar amar, ensinar, cuidar, fazer carinho, agora profere palavras amargas, duras. Essas palavras vão ressoar por muito tempo na vida desse novo ser, vão entrar no coração.

Agora, com 19 anos, oito em tratamento com psicólogo, vários remédios, 4 tentativas de suicídio, três delas sem o conhecimento dos pais, Jéssica, não consegue fazer amigos. As notas na faculdade são ruins. Isola-se e tem sintomas de depressão. Os sentimentos de incapacidade, ausência de inteligência, de não ser aceita e de que nunca teria um amigo homem a atormentavam e alimentavam a solidão que sentia.

Toda tentativa, de aconselhamento, motivação, técnicas de autoajuda, grupos de apoio, tem efeito temporário, pois a fantasia é retirada e recolocada em seguida.

Após processo de cura e libertação, Jéssica, e avaliação de psicólogo, não precisou mais de acompanhamento especializado, nem de remédios. Nova roupa, nova vida.

Os pais precisam ter cuidado com a forma de ensinar, expressões utilizadas e condução da criança no dia-a-dia. A posição de autoridade e o amor que o filho tem pelo pai, dão um peso maior ao comportamento e atitudes que os pais fazem quando se relacionam com a criança. Esse relacionamento vai definir o novo ser. 

Não é acaso, podemos auxiliar na construção de uma nova vida. Essa construção pode ser com bom material. Ou pode ser um castelo de areia.