Contexto
Em visita a um casal de Foz do Iguaçu
visualizamos, eu e minha esposa, um problema recorrente nas famílias mosaico, a
dificuldade de se estabelecer a autoridade em relação aos enteados.
No casal em questão, a mãe determinou,
logo nos primeiros dias de casamento, que o padrasto não ensinaria e nem
aplicaria castigos ao filho, então com sete anos. Isso reduziu as
possibilidades de se estabelecer um relacionamento e a capacidade do padrasto
de influenciar positivamente a vida do enteado.
O padrasto, para evitar conflitos na
família recém formada, aceitou a retirada de sua autoridade. No começo, a zona
de conforto e ausência de conflitos parece dar a razão s essa decisão.
Entretanto, isso não é bom.
Hoje com 20 anos, o filho apresenta
dificuldades com sua sexualidade, relacionamentos familiares e sociais, bem
como depressão. Está em tratamento com psiquiatras e psicólogos. Toma remédios
controlados, não trabalha e não estuda. O desinteresse por trabalho e por
estudo tem origem na incapacidade de relacionamento com pessoas e na
dificuldade em receber ordens.
O conflito
A mãe retirou do padrasto a autoridade
para com o enteado. A frase foi: “você não é o pai, a partir de agora você não
tem que cuidar de nada do garoto.” Inicia-se a síndrome dos dois reinos.
Normalmente é assim, uma verdade e
uma mentira. A verdade ampara a mentira. De fato, ele não é o pai. Mas é
autoridade sobre tudo que é sua responsabilidade, todos os bens materiais da
casa, bem como pessoas. Isso é indissociável.
Ao retirar a autoridade do padrasto,
que assim consentiu e tem parte no problema, a mãe criou um novo reino em casa,
alijou o filho de um relacionamento importante com autoridade masculina e deu
poder de escolha a alguém sem parâmetros, personalidade formada e experiência
para decidir, seu filho. Além disso, a mãe não conseguiu ensinar e estabelecer
limites na educação do filho. Nas palavras de Jesus, um reino dividido não pode
subsistir.
Conseqüências
Nesse cenário, o filho entende que a
única autoridade que existe sobre si é a sua mãe.
Esta autoridade é manipulável e cede
as suas vontades. Sendo assim, os professores, policiais e chefes não
autoridades em sua vida. A transgressão e o desrespeito fazem parte de sua vida
confortável. Deixá-lo a vontade é uma forma de amor dado pela mãe em uma
tentativa de compensar a falta que um pai faz. Nenhuma mãe consegue isso. Bem
como nenhum pai vai suprir a falta que uma mãe faz.
Além disso, há conflito constante. O
filho se considera dono de si. Duas autoridades na casa. Isso cria um ambiente
de desonra para o homem e sobrecarga para a mulher.
Desde que começamos a trabalhar com
casais, nas suas diversas formações, ouvimos mulheres reclamando de sobrecarga.
Esse é o resultado de assumir responsabilidades inerentes a todos os membros da
família.
Ao executar atividades que são
responsabilidades de outros, retiramos a oportunidade de crescimento e
participação nas atividades da casa. É necessário criar um ambiente
colaborativo, em que todos sabem que fazem parte de uma equipe. Sem isso,
alguém vai ficar sobrecarregado.
Recebemos relatos de mulheres que estão
com sobrecarga de atividades, visto que retiraram do homem suas
responsabilidades, com vistas a proteger o filho e a si mesma. Cuida das
finanças, da limpeza, educação dos filhos e da própria vida. Isso não é
casamento. Algumas pessoas percebem isso e a conseqüência é novo divórcio.
O sentimento familiar de equipe, de
amizade e de intimidade é de responsabilidade do homem.
Sem autoridade, o homem se sente
pressionado, pois não consegue programar ações nesse sentido, muito menos tomar
decisões. Para onde viajar, o que ver na TV, notas da escola, horário de
dormir, o que comer, tudo passa por três instâncias de decisão: o pai, a mãe e
o filho.
Continuamente desonrado, sem margem
de manobra em sua própria casa, passa a maioria do tempo em locais onde se
sente a vontade. Menos em sua casa. Passa a ser ausente, pois não é necessário.
O filho ao receber todo esse mimo, e
ver toda confusão e conflito na casa, entende isso como fraqueza. E se afasta.
Filhos gostam e se aproximam de pessoas com autoridade. Principalmente se essa
autoridade for moral.
A primeira ilusão do homem que casa
com mulher com filhos é que ele será um bom pai ou pelo menos fará esforço para
isso. Isso é uma mentira.
Ele pode exercer autoridade com
sabedoria e conseqüentemente ser um amigo. Alguns homens ficam tristes quando
ouvem a expressão: “você não é meu pai!” Embora isso seja um fato, não deve ser
motivo de tristeza. Devemos aceitar o título de padrasto e exercer todo o poder,
amor e sabedoria que o cargo exige. Em algum momento de dificuldade com a mãe e
o enteado, teremos a tentação de deixar de lado a autoridade. Isso é um erro
terrível na educação de filhos. As conseqüências são inegáveis. E virão.
Solução
As regras para conduzir esse tipo de
situação, resguardadas as exceções, são:
1º - você não é o pai, mas se for chamado
assim, deixe;
2º - você é autoridade;
3º - exerça autoridade;
4º - não abra mão, em hipótese
nenhuma, da sua autoridade;
5º - privilegie o relacionamento, a
amizade é conseqüência e não o objetivo;
As regras acima citadas
servem também para as madrastas.