quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Família Mosaico – Síndrome dos Dois Reinos


Contexto

Em visita a um casal de Foz do Iguaçu visualizamos, eu e minha esposa, um problema recorrente nas famílias mosaico, a dificuldade de se estabelecer a autoridade em relação aos enteados.

No casal em questão, a mãe determinou, logo nos primeiros dias de casamento, que o padrasto não ensinaria e nem aplicaria castigos ao filho, então com sete anos. Isso reduziu as possibilidades de se estabelecer um relacionamento e a capacidade do padrasto de influenciar positivamente a vida do enteado.

O padrasto, para evitar conflitos na família recém formada, aceitou a retirada de sua autoridade. No começo, a zona de conforto e ausência de conflitos parece dar a razão s essa decisão. Entretanto, isso não é bom.

Hoje com 20 anos, o filho apresenta dificuldades com sua sexualidade, relacionamentos familiares e sociais, bem como depressão. Está em tratamento com psiquiatras e psicólogos. Toma remédios controlados, não trabalha e não estuda. O desinteresse por trabalho e por estudo tem origem na incapacidade de relacionamento com pessoas e na dificuldade em receber ordens.

O conflito

A mãe retirou do padrasto a autoridade para com o enteado. A frase foi: “você não é o pai, a partir de agora você não tem que cuidar de nada do garoto.” Inicia-se a síndrome dos dois reinos.

Normalmente é assim, uma verdade e uma mentira. A verdade ampara a mentira. De fato, ele não é o pai. Mas é autoridade sobre tudo que é sua responsabilidade, todos os bens materiais da casa, bem como pessoas. Isso é indissociável.

Ao retirar a autoridade do padrasto, que assim consentiu e tem parte no problema, a mãe criou um novo reino em casa, alijou o filho de um relacionamento importante com autoridade masculina e deu poder de escolha a alguém sem parâmetros, personalidade formada e experiência para decidir, seu filho. Além disso, a mãe não conseguiu ensinar e estabelecer limites na educação do filho. Nas palavras de Jesus, um reino dividido não pode subsistir.

Conseqüências

Nesse cenário, o filho entende que a única autoridade que existe sobre si é a sua mãe.

Esta autoridade é manipulável e cede as suas vontades. Sendo assim, os professores, policiais e chefes não autoridades em sua vida. A transgressão e o desrespeito fazem parte de sua vida confortável. Deixá-lo a vontade é uma forma de amor dado pela mãe em uma tentativa de compensar a falta que um pai faz. Nenhuma mãe consegue isso. Bem como nenhum pai vai suprir a falta que uma mãe faz.

Além disso, há conflito constante. O filho se considera dono de si. Duas autoridades na casa. Isso cria um ambiente de desonra para o homem e sobrecarga para a mulher.

Desde que começamos a trabalhar com casais, nas suas diversas formações, ouvimos mulheres reclamando de sobrecarga. Esse é o resultado de assumir responsabilidades inerentes a todos os membros da família.

Ao executar atividades que são responsabilidades de outros, retiramos a oportunidade de crescimento e participação nas atividades da casa. É necessário criar um ambiente colaborativo, em que todos sabem que fazem parte de uma equipe. Sem isso, alguém vai ficar sobrecarregado.

Recebemos relatos de mulheres que estão com sobrecarga de atividades, visto que retiraram do homem suas responsabilidades, com vistas a proteger o filho e a si mesma. Cuida das finanças, da limpeza, educação dos filhos e da própria vida. Isso não é casamento. Algumas pessoas percebem isso e a conseqüência é novo divórcio.

O sentimento familiar de equipe, de amizade e de intimidade é de responsabilidade do homem.

Sem autoridade, o homem se sente pressionado, pois não consegue programar ações nesse sentido, muito menos tomar decisões. Para onde viajar, o que ver na TV, notas da escola, horário de dormir, o que comer, tudo passa por três instâncias de decisão: o pai, a mãe e o filho.

Continuamente desonrado, sem margem de manobra em sua própria casa, passa a maioria do tempo em locais onde se sente a vontade. Menos em sua casa. Passa a ser ausente, pois não é necessário.

O filho ao receber todo esse mimo, e ver toda confusão e conflito na casa, entende isso como fraqueza. E se afasta. Filhos gostam e se aproximam de pessoas com autoridade. Principalmente se essa autoridade for moral.

A primeira ilusão do homem que casa com mulher com filhos é que ele será um bom pai ou pelo menos fará esforço para isso. Isso é uma mentira.

Ele pode exercer autoridade com sabedoria e conseqüentemente ser um amigo. Alguns homens ficam tristes quando ouvem a expressão: “você não é meu pai!” Embora isso seja um fato, não deve ser motivo de tristeza. Devemos aceitar o título de padrasto e exercer todo o poder, amor e sabedoria que o cargo exige. Em algum momento de dificuldade com a mãe e o enteado, teremos a tentação de deixar de lado a autoridade. Isso é um erro terrível na educação de filhos. As conseqüências são inegáveis. E virão.

Solução
As regras para conduzir esse tipo de situação, resguardadas as exceções, são:

1º - você não é o pai, mas se for chamado assim, deixe;
2º - você é autoridade;
3º - exerça autoridade;
4º - não abra mão, em hipótese nenhuma, da sua autoridade;
5º - privilegie o relacionamento, a amizade é conseqüência e não o objetivo;

As regras acima citadas servem também para as madrastas.

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