segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Família Mosaico – Síndrome da Compensação


Conceito

Família mosaica compreende a fusão de duas ou mais famílias oriundas de divórcio ou viuvez. Podem ou não existirem filhos de casamentos anteriores.

Nessa nova formação social podem coexistir irmãos, meio-irmãos e não-irmãos. Além disso, independente da convivência, a lei considera os enteados, parentes, em linha reta, descendente de primeiro grau, o filho cônjuge de outras uniões (CC, art. 1.595, § 1.º).

Na família tradicional a formação é definida e as autoridades são plenas de reconhecimento, ou seja, o pai e a mãe são indiscutivelmente as autoridades da casa, ensinam e aplicam punição na periodicidade necessária.

Na nova formação são necessários ajustes e uma comunicação entre os novos e antigos cônjuges afinada. A possibilidade da existência de pai e mãe, padrasto e madrasta abre a necessidade definição de alçadas e responsabilidades. Ou seja, quem faz o quê.

A clareza nas atribuições vai facilitar a resolução de conflitos e incidentes que podem ocorrer nos primeiros anos de coexistência.

Contexto

Com a ascensão do número de famílias mosaico ficou mais fácil de observar um evento que é muito mais comum que se imagina. No último censo realizado pelo IBGE, em 2010, foi levantado que a família mosaica ou família reconstituída como instituto preferiu chamar, existe em 16,3% dos lares de casais com filhos, ou seja, 4,446 milhões de lares nessa situação. Em 1,9 milhões de lares, existem filhos de outras uniões.

Com a popularização do divórcio e a facilidade que foi instituída pela união estável, vemos multiplicar o conjunto de possibilidades de formação familiar. Relacionamentos começam e terminam com ou sem filhos, em poucos meses. Isso proporciona um sem fim de pessoas que trazem consigo uma bagagem de outros relacionamentos, bem como seus filhos, o que nem sempre é positivo. É um aprendizado baseado em tentativa e erro.

A nova formação carece de cuidados.

O primeiro conflito

O primeiro conflito antecede a formação da nova família. Os pais, bem como os filhos, se sentem culpados. Os pais desenvolvem um desvio comportamental, a síndrome da compensação. Ou seja, a necessidade de pais e mães, muito mais observados em mães, de compensar o filho, pelo do divórcio. De alguma forma os pais creem que precisam compensar o filho pela ruptura da família.

O filho por outro lado, necessita de segurança. Todos os alicerces que ele considerava eternos e infalíveis caíram. Mamãe não ama o papai e papai não ama mamãe. E tudo isso parece ser culpa dele.

Não é possível compensar o filho, com presentes, dispensa de suas responsabilidades, exclusão dos limites e ausência de punição. Ele precisa de amor e que sua rotina volte ao normal o mais rápido possível. Ele não se sente compensando, na maioria das vezes o sentimento presente é de traição.

Isso é o que tem sido a temática nas discussões sobre ensino e disciplina dos filhos, tanto nos casais separados quanto nos novos casais que formam da união de duas ou mais famílias.

Normalmente um dos pais ou os dois passam a se comportar como se o filho fosse um reizinho na casa. O que afeta a todos. Inclusive avós.

A criança fica confusa porque tem que dormir cedo em uma casa e amanhece navegando na internet na outra. Tem alimentação vegetariana em uma casa e lanche rápido em outra. A criança requer padrões bem definidos. E se rebela quando eles não estão bem desenhados.

Alguns filhos se adaptam e se tornam hipócritas apresentando comportamentos adequados para cada situação que se apresenta. Falam palavrão em uma casa, mas, na outra não.

Outros ficam confusos e apresentam sintomas de rebeldia ativa negando-se a seguir qualquer ordem.

Observamos nas duas situações que os filhos tendem a se envolver com drogas e bebidas alcoólicas, bem como apresentar sexualidade exacerbada.

Além disso, alguns pais usam os filhos como instrumento para se ferir mutuamente. A criança em formação adquire feridas emocionais profundas com esse comportamento.

Comportamentos indesejáveis dos pais em relação aos filhos:

- Mandar recados cheios de ódio e ressentimento para o ex-cônjuge;
- expor informações jocosas que eram intimas durante o casamento;
- desonrar, ironizar ou manifestar-se contra todas as ações do ex-cônjuge;
- desfazer a imagem de pai/mãe ou mesmo de autoridade do ex-cônjuge;

Os ressentimentos e conflitos entre os pais durante a separação são infecciosos. Devem ser mantidos distantes dos filhos. Isso não quer dizer que os filhos sejam alijados de informação.

Toda informação sobre o assunto deve ser transmitida com clareza e sem o viés do julgamento. Toda a força em culpar um ao outro se volta para a criança, que recebe como um fardo. Fica obrigada a se posicionar, tomar partido. Ninguém deveria ter que passar por isso. É muita pressão.

O Ambiente familiar desconfigurado

A situação piora quando entra em cena outra autoridade. O padrasto ou a madrasta. Além deles, outros atores entram em cena. Irmãos! No começo são chamados: “filhos do padrasto”.

Para a criança em crescimento a única autoridade conhecida é papai e mamãe. Agora uma figura diferente, que se apresenta como autoridade para lhe ensinar, dar ordens e punir.

Quanto aos novos irmãos, tem que dividir a casa, a mãe e as atenções com alguém que mal conhece. Enquanto o pai ou a mãe namorou, conheceu e estabeleceu um relacionamento de confiança que resultou em novo casamento, os “irmãos” simplesmente aparecem.

Se não há uma uniformidade de crenças e ensinamentos entre todos, a criança fica a mercê de um sistema de confuso de ordens e conceitos desencontrados. A criança passou por momentos de incerteza e insegurança na ocasião da separação dos pais. Agora mais confusão! Podemos encontrar aqui alguns sentimentos de raiva e ciúme.

As conseqüências

Essa criança se sente sempre imperfeita, não consegue se encaixar em todos os padrões exigidos, não alcança as exigências. Ela se sente só, abandonada. Vai abraçar o primeiro que a adotar. O primeiro que entender o que ela está passando.  Pode ser um melhor amigo ou um traficante. Melhor que seja você, papai ou mamãe.
Alguns se isolam, passando longos períodos trancados no quarto. Outros, evitando as atividades familiares com almoço, festas, igreja, etc...

O resultado pode ser visto com problemas de bulimia, anorexia, tristeza, depressão e suicídio. Alguns têm tentativas de suicídio que os pais desconhecem.

A solução

A integração entre os familiares na formação da nova família nem sempre é rápida como os pais desejam. O pesquisador James Bray descobriu que famílias mosaico levam de três a quatro anos para pensar e agir como família. As pesquisas apontam esse tempo para famílias com filhos em pouca idade e com pais que investem fortemente em relacionamento.

Famílias mais lentas, com filhos mais velhos e pais não tão comprometidos levam mais de sete anos para se integrar e manter intimidade e autenticidade nas relações dos enteados com os padrastos e madrastas.

Em várias situações encontramos homens e mulheres que gostariam de ter sido avisados da complexidade de um segundo casamento. Os casais relatam que o novo casamento não parece em nada com o primeiro, no que diz respeito a relacionamentos, dinheiro e espiritualidade.

O início é lento e as relações vão crescendo à medida que os anos passam. No caso da família mosaico, existem fundamentos que precisam ser destruídos e reconstruídos no intuito de estabelecer um novo padrão familiar. A vida de todos está em pleno andamento. O número de parentes multiplica. Aniversários em família são ricos em avós, tios e primos. Existem conflitos em andamento e novos vão surgindo.

Os pais separados com novas famílias ou não precisam uniformizar suas condutas e procedimentos. Planejar mutuamente o ensino e a condução de seus filhos. Isso vai minimizar o desconforto e confusão que a criança ou jovem está passando. Vai amenizar os conflitos.

Deixar de lado as diferenças e questões pessoais em prol dos filhos pode ser uma pontinha de compensação que você tem pensado em dar ao seu herdeiro.

Nesse ponto a comunicação entre todos os intervenientes da vida da criança tem que ser efetiva. Nada pode ficar no ar. As informações incompletas, desencontradas ou omitidas viram fantasia na vida da criança ou jovem. Ela começa a imaginar que não é amada, querida e que está fora do contexto familiar. Ela tem necessidade de pertencer a um grupo uniforme, perene em que seja aceita como é.

Nesse ponto começa imaginar que não é.

Passa a buscar outros grupos fora de casa e rejeita todas as atividades e grupos a que os pais pertencem, como a profissão, igreja, amigos, etc. Ela não quer pertencer a nada que tenha contato com aquele grupo que não fala com ela, que não comunica nada e que se afastou dela.

Buscar ajuda é importante. Existem pessoas que trabalham com famílias e tem experiência para auxiliá-los nessa tarefa. São psicólogos, conselheiros, pastores e até o conselho tutelar. Não lute sozinho. Não banque auto-suficiente não é demérito ou fraqueza. Pelo contrário é sinal de sabedoria.

Perguntas para reflexão:
1 - Tenho me comunicado claramente com meu(s) filho(s)/ diariamente?
2 - Tenho tentado compensar meu(s) filho(s) pelo divórcio ou pelo novo casamento?
3 - O(s) filho(s) tem sido usado(s) como instrumento para ferir?
4 - O que posso fazer para uniformizar as atividades do(s) meu(s) filho(s)?

Esta semana em casa:
a)     Observe suas ações e de seus filhos durante a semana e avalie:
1 – há ciúme entre irmãos e meio-irmãos?
2 – há episódios de violência física ou verbal entre os membros da família?
3 – há algum membro da família que se isola dos demais?
4 – há desobediência ativa ou passiva?

Nenhum comentário:

Postar um comentário